terça-feira, 21 de setembro de 2010
TUDO QUE APRENDI NA VIDA,FOI NO JARDIM DE INFÂNCIA
O texto abaixo é uma transcrição das primeiras páginas do livro de Robert Fulghum, intitulado “Tudo que eu devia saber na vida aprendi no Jardim de Infância”, obra em que o escritor “diplomado em contação de histórias” como o próprio brinca, faz um apanhado de lições ao longo de sua vida, reunidas em escritos despretensiosos, mas que lhe renderam um livro.Fiquei encantada.Compartilho então.
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[...] Já faz muitos anos que, a cada primavera, imponho-me a tarefa de fazer uma declaração pessoal de fé – de compro um Credo. Quando era mais jovem, meu Credo ocupava páginas e páginas, de tanto que me preocupava em cobrir todas as áreas, sem deixar nada pendente. Era como se tivesse de produzir uma espécie de sentença da Suprema Corte; como se, com palavras, pudesse resolver todos os conflitos sobre o sentido da existência.
Com o tempo, o Credo foi encolhendo. Às vezes acaba soando cínico, às vezes cômico, às vezes sereno, mas continuo trabalhando nele. Recentemente resolvi que tinha de fazê-lo caber inteiro em uma única página e que só podia usar palavras simples, mesmo sabendo que corria o risco de parecer idealista e ingênuo.
A idéia de procurar ser breve, verdadeira inspiração, ocorreu-me num posto de gasolina. Estava abastecendo meu velhíssimo automóvel com a gasolina mais pura, de alta octanagem. Combustível de luxo. O carro protestou: começou a ratear nos cruzamentos, vazava combustível pelas esquinas. Eu logo entendi o que estava acontecendo. De vez em quando me sinto assim, como o tanque de meu carro. Excesso de informação, excesso de complexidade, e eu é que começo a ratear pelas esquinas – um ratear existencial pelos cruzamentos da vida, justamente nos locais e horas em que tenho de tornar as mais difíceis decisões, e inevitavelmente descubro que ou seu demais, ou sei de menos. Quanto mais penso sobre a vida, mais me convenço de que ela não é um piquenique.
Foi quando descobri que já sei praticamente tudo o que é necessário saber para viver com dignidade – o quê, afinal, não é assim tão complicado. Já sei quais são as coisas que realmente contam. E de fato sei há muito tempo, porque tenho vivido essas coisas. Sim, claro que viver já são “outros quinhentos”. Eis o meu Credo:
Dividir tudo com os companheiros.
Jogar conforme as regras do jogo.
Não bater em ninguém.
Guardar os brinquedos onde os encontrava.
Arrumar a “bagunça” que eu mesmo fazia.
Não tocar no que não era meu.
Pedir desculpas, se machucava alguém.
Lavar as mãos antes de comer.
Apertar a descarga da privada.
Biscoito quente e leite frio fazem bem à saúde.
Fazer de tudo um pouco – estudar, pensar e desenhar,
pintar, cantar e dançar, brincar e trabalhar, de tudo um pouco, todos os dias.
Tirar uma soneca todas as tardes.
Ao sair pelo mundo, cuidado com o trânsito, ficar sempre
de mãos dadas com o companheiro e sempre “de olho” na professora.
Pense na sementinha de feijão, plantada no copo de plástico: as raízes vão para baixo e para dentro, e a planta cresce para cima – ninguém sabe como ou por quê, mas a verdade é que nós também somos assim.
Peixes dourados, porquinhos-da-índia, esquilos, hamsters e até a semente no copinho plástico – tudo isso morre. Nós também.
E lembre-se ainda dos livros de histórias infantis e da primeira palavra que você aprendeu, a mais importante de todas: Olhe!
Escolha um desses itens e o elabore em termos sofisticados, em linguagem de adulto; depois aplique-o à vida de sua família, ao seu trabalho, à forma de governo no país, ao seu mundo, e verá que a verdade que ele contém mantém-se clara e firme. Pense o quanto o mundo seria melhor se todos nós – o mundo inteiro – fizéssemos um lanche de biscoitos com leite às três da tarde e depois nos deitássemos, sem a menor preocupação, cada um no seu colchãozinho, para uma soneca. Ou se todos os governos adotassem, como política básica, a idéia de recolocar as coisas nos lugares onde estavam quando foram retiradas; arrumar a “bagunça” que tivessem feito.
E é verdade, não importa quantos anos você tenha: ao sair pelo mundo, vá de mãos dadas, e fique sempre “de olho” no companheiro.
(Texto de Robert Fulghum, autor do livro que dá nome ao post)
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